…a espera…

Lento seria o movimento imposível do silêncio.
Lento era o tormento da curvatura da tua perna sobre a ravina.
Lento é o modo da tinta na língua da palavra.
A metáfora ignora tudo isso, e o texto flui como água.

(Amachuca-se a folha, retorna-se ao princípio:
Faz Sol. Está quente. E os personagens incomodados
com a espera, agitam os catálogos e jornais,
cheios de calor misturado com olhares de censura.)

Do silêncio impossível surge um modo de tinta que é um texto que flui como água.

(O poeta sossega, os personagem sorriem e ocupam aliviados os seus lugares.)

Começa agora.

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…não existem palavras…

Não existem palavras para quando se está só.

Só; é uma palavra, que por si só, é uma ilha. Lá não passam aves, nem vento… e mesmo o Sol, só quando está triste.

Sózinho, não é um diminutivo de só. É a sombra muito escura que o “só” projecta em seu redor quando engole a luz de uma vida.

Só não pára. Move-se no interior de uma vida, como um incêndio numa mata desprezada. Nada fica, fica-se só.

Sózinho, nem a morte lhe quer nada. Hão-de reparar, que o suicida antes de se matar, calcorreia infernos de lonjuras. Não é a solidão que mata. É o cansaço.

A solidão é o fruto da descrença que os outros lhe depositam no regaço, como se de terra tratasse. E assim cresce lenta mas firmemente; pujante como uma árvore de troncos fortes. Tão fortes que podem suportar um corpo pendurado por uma corda sem vergar…

Claro que exagero.

A solidão é uma longa avenida onde se perde a identidade. Não é mais nada senão isso.

Ali vai uma avenida inteira de solidão, ao sol, com as mãos nos bolsos… sempre a andar, andar, andar…